Altos juros não são via de regra ruins ao petróleo
Para muitos, altas taxas de juros são negativas aos preços das commodities porque levam a uma queda na demanda. Entretanto, chama atenção que neste ciclo esta relação não tem sido observada.
A narrativa no mercado financeiro é a de que altas taxas de juros são nocivas ao petróleo porque elas levam a uma menor demanda e, portanto, estoques mais altos. Por mais que este raciocínio não seja completamente equivocado, não acredito que ele deve ser usado no ciclo corrente. Tanto porque o lado da demanda quanto o da oferta têm sido relativamente fortes diante deste contexto macro, mas também porque estoques de óleo e derivados estão perigosamente baixos ao redor do mundo.
Os países anglo-saxões têm sido bastante resilientes à alta de juros, principalmente os EUA. Estamos observando o mais agressivo aperto monetário dos últimos 40 anos no país e, mesmo assim, empresários estão contratando e o desemprego continua próximo a mínimas históricas. Isto sem contar que a economia norte-americana cresceu quase 3% em relação ao mesmo período de 2021 no 3º trimestre de 2022! Números estes que não devem ser ignorados e que refutam a ação de preços vista com as “hard commodities”.
Existe o entendimento de que o ciclo de alta que vimos com os preços do petróleo e de seus derivados é enraizada em sérios problemas de oferta. Desde 2015 os investimentos globais em exploração e produção de novos poços de óleo e gás têm caído e ainda não recuperaram completamente a recente queda em função da pandemia. Trata-se de uma constatação muito preocupante em meio a previsões de que países emergentes deverão dobrar o consumo de petróleo nos próximos anos. Índia, por exemplo, que atualmente refina algo próximo a 5 milhões de barris por dia (M bpd) deverá ver este valor chegar a 11M bpd antes de 2045 – de acordo com previsões da OPEP.
Esta situação precária de investimentos tende a ser exacerbada pela alta de juros. Investimentos no mercado de petróleo facilmente ultrapassam os bilhões de dólares. Poços, refinarias e malhas de transporte são ativos muito caros e que, por vezes, podem apresentar retornos de investimento relativamente baixos em comparação com a média do mercado. Portanto, não é surpreendente ver empresas do setor divulgando baixas intenções de investimento em seus resultados trimestrais. Especialmente quando existe a predileção em direcionar todo o fluxo de caixa livre para o pagamento de dividendos aos acionistas. Empresas de óleo e gás se tornaram máquinas de dinheiro fácil, extrair commodity pode ficar em segundo plano.
Além disso, altos juros podem fazer com que traders não tenham incentivos econômicos para manter o estoque de suas matérias primas. Petróleo, derivados, metais, grãos etc. Explico. Grande parte das casas comercializadoras de commodities compra estes ativos com as linhas de crédito oferecidas por bancos de confiança. O problema é que o custo deste financiamento é diretamente proporcional às taxas de juros. Ou seja, quanto mais altas, mais elevados serão os custos de dívida. Portanto, juros não impedem apenas o investimento, como podem desincentivar a estocagem de produtos. Também devemos levar em conta que já existem títulos de dívida americana de longo prazo pagando retornos reais no mercado. Custo de oportunidade, também, é algo a se considerar – especialmente quando devemos terminar o ano com Jerome Powell levando os juros norte-americanos a 5%.
Fácil, portanto, é ceder a narrativas de que o preço do petróleo e derivados deverá ir para baixo à medida que os juros sobem. Afinal de contas, existe a possibilidade de uma recessão global em 2023. Difícil, no entanto, é ignorar o fato de que a OPEP+ e EUA não conseguem aumentar a oferta, empresas do setor estão sendo brutalmente taxadas em função dos altos e recentes lucros, e estoques de combustíveis, principalmente de diesel, nunca estiveram tão baixos à frente de um inverno nos principais centros consumidores.
Obrigado por ler, e espere por mais textos em breve,
Heitor Paiva