Morar no Norte dá a oportunidade de observar a história “de cima” – tanto de uma perspectiva geográfica, quanto semântica. Aqui se olha para baixo com ar de tutela. Pretensão esta usada a fim de mascarar uma falta de conhecimento sobre as facetas do sul global.
Ajustados pela ótica do poder de compra, o PIB dos BRICs já é maior que o dos países membros da OCDE (31,6% Vs 30,3%, respectivamente em 2022). Em termos demográficos, a comparação é ainda mais gritante. O grupo emergente tem 41% da população global, quase duas vezes mais que os desenvolvidos. Comparações relacionadas à disponibilidade de matérias-primas como petróleo, metais raros e água mineral não merecem menção. Não seriam paralelos de igual para igual. Emergentes dominam estas cadeias.
A questão energética, baseada nos princípios da sustentabilidade e competitividade, deve dar o empurrão tecnológico a nações como Brasil e Índia. Trata-se de uma questão de tempo. E de muita cooperação inter-regional de emergente-emergente, e não de emergente-desenvolvido. Motivo é simples: protecionismo energético e agrícola é extremamente forte no “Ocidente”. Fazendeiros europeus e norte-americanos têm o direito de fazer lobby para proteger o seu mercado, mesmo que isto acabe obrigando os seus clientes a pagarem preços mais elevados pelo produto final.
Fica uma pergunta, no entanto. Do que seria este Norte sem o “ultrapassado” Sul? Por que o Norte ama tanto o passado, e não vê que o novo sempre vem? Indagações que fico ao caminhar pelas belas ruas da Europa – o que produzem aqui? Qual o legado que esta geração atual europeia deixará para o futuro? Além de valores estéticos, é claro, não vejo algo concreto.
Mas quando olhamos ao mundo meridional, a realidade é outra. Tratam-se das maiores taxas de crescimento de PIB atualmente – sinal de que algo, pelo menos, está sendo feito. Alemanha, motor europeu, decresceu 0,2% no 3º trimestre de 2023. Vietnã, no mesmo período, ficou com um PIB perto de 5,3%. Ambas as comparações com o mesmo período do ano anterior. Não se trata de um relato com o intuito de rezingar. Na verdade, fui recebido de braços abertos por todos assim que cheguei e sou grato por isto.
Como qualquer analista, os atos de observar, comparar e avaliar são involuntários. Diria até que automáticos. E concluo: Quem sempre ensinou terá, agora, de aprender a aprender. E quem sempre teve que aprender já está em condições de ensinar, e muito. O mundo mudou, só alguns não perceberam. Talvez mais por orgulho, do que por falta de conhecimento.